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O burro soberbo: o que explica a decadência intelectual no Brasi

  • Foto do escritor: Ederlindo Paulino
    Ederlindo Paulino
  • 30 de mar.
  • 5 min de leitura

Por Dinhonoticias: 30/03/2025 às 21:10


Muita gente pensa que a burrice é própria de pessoas humildes, sem arrogância. Isso não é verdade. Existe essa imagem da pessoa sem educação como aquele pobre camponês simples desprovido de escolaridade e que tem uma atitude resignada diante da vida. Essa percepção não condiz com a realidade da burrice.

O burro, o ignorante, é quase necessariamente soberbo. Isso porque lhe faltam dados para compreender a realidade. A realidade, para o burro, é muito pequena. E exatamente por não conseguir abarcar abstrações maiores, ele precisa defender agressivamente seu micro território cognitivo. O burro sabe muito pouco sobre o mundo, e esse pouco precisa ser defendido para garantir sua segurança existencial. A essa defesa damos o nome de arrogância.


Estamos tão anestesiados pela imoralidade e pelo caos da sociedade brasileira que mal notamos que essa postura arrogante tem tomado conta de todo o nosso horizonte social. Mas é fácil evidenciar isso, pois a decadência intelectual no Brasil é um fenômeno que se manifesta tanto em dados estatísticos como nos hábitos de consumo midiático. Observa-se um empobrecimento do debate público e uma valorização crescente da mediocridade, que parecem ter se tornado normas sociais.


Um dado estático alarmante, mas ao qual não foi dada a devida atenção, foram as pesquisas conduzidas por Jakob Pietschnig e Martin Voracek, da Universidade de Viena. Os estudos revelaram que, de 31 países analisados, o Brasil foi o único a apresentar redução no quociente de inteligência (QI). Dados compilados entre 1930 e 2004 mostraram uma diminuição de 0,12 ponto de QI por ano em crianças de Belo Horizonte. Entre 1987 e 2005, crianças de Porto Alegre apresentaram uma queda de 0,04 ponto anual. Esses resultados sugerem não apenas falhas no sistema educacional, mas também sua consequência natural: uma transformação cultural que privilegia o superficial em detrimento do profundo, o fácil em detrimento do complexo.


Muita gente pensa que a burrice é própria de pessoas humildes, sem arrogância. Isso não é verdade. Existe essa imagem da pessoa sem educação como aquele pobre camponês simples desprovido de escolaridade e que tem uma atitude resignada diante da vida. Essa percepção não condiz com a realidade da burrice.

O burro, o ignorante, é quase necessariamente soberbo. Isso porque lhe faltam dados para compreender a realidade. A realidade, para o burro, é muito pequena. E exatamente por não conseguir abarcar abstrações maiores, ele precisa defender agressivamente seu microterritório cognitivo. O burro sabe muito pouco sobre o mundo, e esse pouco precisa ser defendido para garantir sua segurança existencial. A essa defesa damos o nome de arrogância.


Estamos tão anestesiados pela imoralidade e pelo caos da sociedade brasileira que mal notamos que essa postura arrogante tem tomado conta de todo o nosso horizonte social. Mas é fácil evidenciar isso, pois a decadência intelectual no Brasil é um fenômeno que se manifesta tanto em dados estatísticos como nos hábitos de consumo midiático. Observa-se um empobrecimento do debate público e uma valorização crescente da mediocridade, que parecem ter se tornado normas sociais.


Um dado estático alarmante, mas ao qual não foi dada a devida atenção, foram as pesquisas conduzidas por Jakob Pietschnig e Martin Voracek, da Universidade de Viena. Os estudos revelaram que, de 31 países analisados, o Brasil foi o único a apresentar redução no quociente de inteligência (QI). Dados compilados entre 1930 e 2004 mostraram uma diminuição de 0,12 ponto de QI por ano em crianças de Belo Horizonte. Entre 1987 e 2005, crianças de Porto Alegre apresentaram uma queda de 0,04 ponto anual. Esses resultados sugerem não apenas falhas no sistema educacional, mas também sua consequência natural: uma transformação cultural que privilegia o superficial em detrimento do profundo, o fácil em detrimento do complexo.


Reparem que gente burra geralmente se sente com muita razão. São os que gritam mais, fazem mais alarde etc. É por isso, inclusive, que a expressão midiática da burrice é sempre o sensacionalismo. É necessário o alarme, a apelação, a gritaria, a pornografização de tudo

Essa estatística tem respaldo na cultura. Um exemplo emblemático dessa decadência é o sucesso de programas como o podcast PodPah. Há toda uma onda de memes surgindo organicamente na internet que mostram as grandes peripécias cognitivas de seus apresentadores — desde confundir a cultura celta com o carro Celta (sim!) até não saber o significado da palavra “patológico”.


A atuação está abaixo do vergonhoso. Apesar de respeitar o espírito empreendedor e a vontade de crescer, precisamos reconhecer a grande pobreza cultural atestada no programa. Também não devemos culpá-lo. Programas assim são reflexos de uma cultura que já vem se estabelecendo há muitas décadas. Dos filmes Jackass à superficialidade de canais como MTV, essa preferência por conteúdos vazios não é um fenômeno isolado, mas consequência de um processo histórico.


Em Amusing Ourselves to Death (1985), por exemplo, Neil Postman argumenta que a televisão transformou o discurso público em entretenimento superficial — degradando a política, a educação, a religião e praticamente todas as esferas da vida pública. Ao substituir a era da tipografia, marcada pela profundidade intelectual, pela era da imagem, a televisão moldou a sociedade para valorizar o espetáculo acima da substância. Postman mostra como o entretenimento se tornou a principal forma de comunicação, onde debates políticos viram shows e questões complexas são reduzidas a slogans

simplistas.


É por isso que o brasileiro tem consumido, cada vez mais, o que poderíamos chamar de "entretenimento burro". Influenciadores e apresentadores sem qualquer embasamento cultural ou intelectual tornam-se cada vez mais referências de atuação. O problema não reside apenas na risada fácil, mas na construção de uma mentalidade que desvaloriza o conhecimento e a reflexão verdadeira.


Dessa vacância, surge o espírito altamente arrogante que tem impregnado o convívio social brasileiro. Reparem que gente burra geralmente se sente com muita razão. São os que gritam mais, fazem mais alarde etc. É por isso, inclusive, que a expressão midiática da burrice é sempre o sensacionalismo. É necessário o alarme, a apelação, a gritaria, a pornografização de tudo.


A solução para esse problema deveria passar pela presença do homem sábio na sociedade. Por mais clichê que esse termo possa parecer, é somente através da presença exemplar e edificante de pessoas bem formadas que será possível – através de uma estratégia de contágio natural – diminuir essa decadência. Ou, pelo menos, criar espaços onde o convívio seja diferente. É necessário resistir à tentação do superficial e buscar o que edifica, o que desafia e o que amplia os horizontes intelectuais.


Por isso, precisamos ficar atentos aos traços da sabedoria. Reparem que o homem sábio percebe que a realidade é muito grande, que as verdades são cheias de nuances – e, por isso mesmo, precisam ser vistas com cuidado. Essa abertura ao real gera um fenômeno duplo: de um lado, restrição no julgamento; por outro, a paz própria de quem entendeu algo da realidade. A humildade comumente vem acompanhada da paz, pois o sábio não sente a necessidade de defender-se. Isso porque captou a realidade e compreende que ela é inabalável. Que a verdade existe e podemos apreendê-la.


É dessa constatação que surge a personalidade original, tão vacante em nossa sociedade. Falta-nos aquela figura do homem que se entende capaz de apreender a realidade e não tem medo do desconhecido. E, por não ter medo, ele pode agir no mundo de maneira criativa, ordeira e pacífica, sem arrogância – iluminando todos à sua volta com inventividade e inteligência. Basta constatar a falta de personalidades assim na sociedade brasileira para atestar o grande necrotério intelectual que nosso país se tornou.



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