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Água, comida e DNA: como o novo chefe do Fórum Econômico Mundial quer “reprogramar” o planeta

  • Foto do escritor: Ederlindo Paulino
    Ederlindo Paulino
  • 27 de abr.
  • 5 min de leitura
Ex-CEO da Nestlé

Por Dinhonoticias 26/04/2025 às 20:28



O austríaco Peter Brabeck-Letmathe, presidente interino do Fórum Econômico Mundial: fama de “super vilão



Segundo a ONU, 900 milhões de pessoas no planeta não têm acesso à água potável. Para o austríaco Peter Brabeck-Letmathe, novo presidente interino do Fórum Econômico Mundial, esse dado não reflete apenas uma crise humanitária — é uma oportunidade de negócios. 


Conhecido na internet por defender que a água deve ser tratada como uma mercadoria, e não um direito humano, o ex-CEO da Nestlé assumiu o cargo em um momento de turbulência na organização. No último domingo (21), o fundador e presidente do Fórum, Klaus Schwab, renunciou após ser acusado de usar fundos da entidade para fins pessoais (como

massagens em hotéis e viagens de luxo para a esposa). 


Vice-presidente da cúpula, Brabeck agora ocupa o lugar de Schwab enquanto um comitê seleciona o próximo líder. Mas há quem diga que ele mesmo pode se tornar o chefão da instituição, acusada de orquestrar a expansão do chamado globalismo — uma agenda que busca concentrar poder nas elites econômicas internacionais, enfraquecendo a autonomia das nações. 


Seu nome, no entanto, divide opiniões. Segundo os críticos, o austríaco de 80 anos é um estrategista frio, impiedoso e maquiavélico, focado apenas em resultados. Como executivo, ficou famoso por cortar custos, fechar fábricas e demitir sem hesitar. 


Graças a esse estilo duro, ganhou apelidos como “tubarão”, “máquina” e Terminator (no sentido de ser um robô programado para a eficiência máxima, porém desprovido de alma). 


Acontece que, para muitos membros do Fórum, essa personalidade implacável é justamente seu maior atributo para comandar a organização neste período de crise. Personificação do chamado “capitalismo sem remorso”, Brabeck seria o homem perfeito para a acelerar processos de interesse da entidade, como o Grande Reset. 


Essa reprogramação total, proposta por Klaus Schwab no livro “COVID-19: The Great Reset" (2020), consiste em mudanças estruturais pós-pandemia — com foco em sustentabilidade, tecnologia, diversidade e igualdade. Mas, para os opositores do globalismo, tudo não passa de um projeto autoritário para controlar sociedades sob o pretexto de “salvar o planeta”.


De sorveteiro a general 


Formado em economia, Peter Brabeck-Letmathe ingressou na Nestlé em 1968.  Sua primeira função, na verdade, foi numa subsidiária da companhia, como vendedor de sorvetes. 

Reza a lenda (e sua autobiografia) que ele não só prospectava fregueses como também entregava os produtos — dirigindo um caminhão frigorífico pelos alpes austríacos. “Foi uma das fases mais felizes da minha vida”, costuma dizer, destacando a liberdade desse trabalho e o contato direto com clientes. 


Sua ascensão na Nestlé é considerada meteórica. E atribuída, de acordo com ele, a seu “espírito aventureiro”, que o fez aceitar um cargo na América do Sul quando todos os seus colegas preferiam seguir carreira na Europa ou nos EUA. 

Designado gerente nacional de vendas no Chile, Brabeck chegou ao país em 1970. Logo de cara, enfrentou um desafio complicado, mas que o colocou em boa conta com a matriz suíça: evitar a ameaça de nacionalização das operações da empresa durante o governo de Salvador Allende. 


Nos anos seguintes, atuou no Equador e na Venezuela, onde implementou medidas drásticas de reestruturação (entre elas a redução de mais da metade das forças de trabalho locais). Em 1997, já era o CEO da Nestlé. Ou o “general”, como também costumava ser chamado pelos funcionários. 

Seus feitos na presidência incluem a redução significativa dos custos de fabricação, a aquisição de novas marcas e a entrada agressiva da multinacional num mercado controverso — o da água engarrafada. 


“Um alimento como qualquer outro” 


A Nestlé já tentava comercializar água desde a década de 1970, mas foi em 1998, sob o comando de Peter Brabeck-Letmathe, que a virada aconteceu. Naquele ano, a empresa inaugurou uma unidade dedicada exclusivamente ao setor e comprou marcas de dezenas de países, para ampliar seu alcance global. 


Rapidamente, a nova divisão passou a representar uma fatia expressiva do faturamento, chegando a responder por quase 10% das receitas totais do conglomerado. Mas o crescimento veio acompanhado de protestos. 


Governos e ONGs denunciaram a Nestlé por captar recursos hídricos em países pobres para depois vendê-los como um produto caro. Já Brabeck ganhou a fama de “super vilão global”, acusado de transformar a água numa commodity estratégica. 


O estopim da crise foi uma entrevista dele ao documentário “We Feed World” ("Nós Alimentamos o Mundo"), de 2005 — uma crítica à produção moderna de alimentos. Questionado sobre a privatização do abastecimento de água para a população, o executivo afirmou que “há duas visões diferentes sobre o assunto [contra e favor]”. 


Mas se complicou ao completar: “A única opinião que eu acho extremista é representada pelas ONGs, que insistem em declarar a água um direito público. Isso significa que, como ser humano, você deveria ter direito à água. Essa é uma solução extrema”. 

Ainda segundo ele, “a água é um alimento como qualquer outro — e como qualquer alimento, deve ter um valor de mercado”.

À frente da Nestlé, Brabeck foi acusado de captar água em países pobres para depois vender como um produto caro.


O CEO que virou meme 


Embora Brabeck não tenha dito com todas as letras que “a água não é um direito humano”, a frase virou meme e até hoje é compartilhada nas redes sociais. Usada por ativistas para estimular boicotes contra a Nestlé, a declaração fez do austríaco uma espécie de símbolo do caráter cínico e exploratório das grandes corporações globais. 


A multinacional chegou a emitir um comunicado para “contextualizar melhor” a posição do executivo — porém a polêmica nunca foi superada.


“Peter Brabeck-Letmathe, acha que a água é um direito humano e que todas as pessoas, em qualquer parte do mundo, têm direito a saneamento e água limpa e segura para beber", afirma o documento, ainda disponível no site da companhia.


“Mas as pessoas estão dizendo que Brabeck afirmou que todas as fontes de água deveriam ser privatizadas. Isso simplesmente não é verdade. O que ele defende, e sempre defendeu, é uma gestão de água mais eficiente por parte dos indivíduos, das indústrias, da agricultura e dos governos", diz a empresa em outra parte do texto. 

A questão da água, contudo, é apenas um dos múltiplos escândalos protagonizados pelo ex-CEO (e hoje presidente emérito) da Nestlé. 


Ao longo dos anos, ele foi acusado de espionar ONGs que denunciavam a companhia, criar uma "sala de guerra” para perseguir supostos inimigos, impor o leite em pó para bebês em regiões áridas, conceder salários nababescos para si mesmo, assediar funcionários e até explorar mão de obra infantil. 



A era da nutrigemônica


Os opositores da agenda globalista ainda revelam outra preocupação com a ascensão de Peter Brabeck-Letmathe ao posto máximo do Fórum Econômico Mundial: sua disposição em promover a nutrigemônica — campo que estuda como a alimentação e os nutrientes afetam o funcionamento dos genes. 


O austríaco propõe que essa ferramenta seja utilizada para desenvolver dietas personalizadas a partir de dados científicos, com o objetivo de prevenir e tratar doenças. Nesse cenário, a indústria alimentícia de ponta desempenharia um papel central na saúde da população mundial, devido a sua capacidade de aplicar novas tecnologias e padrões nutricionais fundamentados. 


Ele inclusive assina um livro sobre o tema, “Nutrition for a Better Life: A Journey from the Origins of Industrial Food Production to Nutrigenomic” (“Nutrição para uma Vida Melhor: Uma Jornada das Origens da Produção Industrial de Alimentos à Nutrigenômica”), lançado em 2016. 


Os críticos, entretanto, veem a nutrigenômica como mais um instrumento para que as grandes corporações obtenham lucros extraordinários e controle social (por meio da patente de alimentos de alto custo baseados em DNA e da coleta massiva de dados genéticos).


Como diz outro meme antiglobalista que circula nas redes, “o Fórum Econômico Mundial não quer salvar o mundo — quer possuí-lo”.





 

 
 
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